sábado, 31 de julho de 2010

A saúde sexual, a modernidade e a doença

O bem-estar em todas as áreas da vida tem uma relação direta com a sexualidade, dizia Freud e todos os seus seguidores. Depois deles, multiplicaram-se os discursos sobre a atividade sexual, sexo caiu na boca do povo, foi restrito a genitalidade, escancaram as opiniões, aparecem de todos os lados as sugestões, dicas e informações de como fazer sexo seguro, saudável, excitante, impactante, descolado, energizante, mirabolante, extravagante, as posições mais vantajosas, a hora dos ais e a dos não ais...
Agora tenho me perguntado: por que as pessoas continuam infelizes, mentalmente enfermas e espiritualmente mortas? O que aconteceu com a premissa de grandes pensadores, homens da ciência, que previam uma melhoria da qualidade de vida em todos os seus aspectos a partir do aprofundamento do conhecimento nessa área e uma conseqüente liberação sexual? Decidi voltar aos compêndios. Iniciei por Historia da sexualidade de Michel Foucault. Que surpresa!
Nessa análise filosófica do comportamento sexual nos últimos séculos, o autor mostra como esses ensaios da sexualidade, em vez de liberar, aprisionaram porque sexo, que antes era ato, tornou-se discurso elaborado, reduzindo a espontaneidade do fato.
(...) Definiu-se também onde e quando se poderia falar dele.
Estabeleceram-se regiões senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e descrição: entre pais e filhos, professores e alunos e patrões e serviçais.
O cerceamento das regras de decência provocou, provavelmente, um contra efeito, uma valorização e uma intensificação do discurso indecente.
Erotismo discursivo generalizado. (...)

(...) O que é próprio das sociedades modernas não é o de terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o de terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como um segredo. (...)

A ponta do iceberg estava aí, porém eu queria mais, precisava saber o que se escondia por trás disso. O que fez a sociedade embarcar nessa onda discursiva e desfocar o prazer real, o grande prazer do encontro, o orgasmo?

Fui beber na fonte do grande pesquisador Wilhelm Reich que estudou o corpo humano como resultado da historia de cada um de nós, um corpo em movimento.

Para ele, também médico e psicanalista, inicialmente um seguidor de Freud, o orgasmo, prazer maior do ser humano é também fonte de equilibração da energia psíquica disponível, o que ele chamou de bioenergia.
A partir daí, seus estudos se voltaram para pesquisar o movimento dessa  bioenergia, formadora do corpo e impulsionadora da vida, e os impactos do desequilíbrio dela em nosso viver.
A bioenergia é o impulso formador do corpo e se este é um corpo em movimento/processo, como pressupõe o desenvolvimento, é natural que necessite de livre trânsito para impulsionar o que precisa ser acionado. É preciso também haver carregamento e descarregamento dessa energia, uma vez que funciona como um sistema de bombeamento energético.
Segundo Reich todo o funcionamento do organismo humano visa o grande ato que possibilita a procriação – o Orgasmo. E é nesse ato que o sistema bombeador da bioenergia assegura o equilíbrio psíquico.
O que acontece então a todos os seres humanos é que, em seu estágio de desenvolvimento, o processo educativo/civilizatório, bloqueia o fluxo da bioenergia, a partir da contração do sistema respiratório e consequente enrijecimento dos músculos, fazendo com que a mesma se concentre em determinadas partes do corpo promovendo um desequilíbrio energético nos seus diversos membros. Assim, essa energia que deveria culminar no acionamento do sistema genital chega a este em quantidade reduzida e gera toda uma disfunção no sistema de carga e descarga; o que num processo de realimentação vai intensificar o bloqueio.
As consequências disso, além de corporais (posturas incorretas, desarmonia da forma, falta de vitalidade, doenças psicossomáticas, distúrbios sexuais, olhos sem brilho, pele sem cor) são também psíquicas: neuroses, psicoses e todas as desordens que acarretam baixa qualidade de vida e falta de impulso para viver. Desconecta o homem do seu corpo. Quanto maior a desconexão, maior a gravidade do problema.
Por aí podemos entender o que falou Foucault sobre o discurso afastado do ato. O homem agora elabora em vez de realizar... Uma desconexão.
E é isso que encontramos nas sociedades modernas. Muita falação e um ato desajustado que impede o encontro total com o outro, relações descartáveis, sexo coisificado, mulheres e homens que não tem domínio de si transformando o encontro do eu com o tu numa “foda”, alienação pelo desconhecimento do seu próprio corpo, alienação pelo desconhecimento das macro implicações do encontro sexual amoroso que se traduzem em falta de espiritualidade e amadurecimento para um ato tão sublime.

Falta-nos uma educação sexual completa que não se restrinja a falar apenas dos aspectos bio-fisiológicos, mas que também insiram os aspectos do psíquico e do espiritual.

Sexo pra ser bom, saudável e prazeroso exige responsabilidade, domínio de si.
Exige saúde física, mental e espiritual.

Sexo bom é encontro do Eu com o Tu em todas as estações, compromisso amoroso e permanente que vai irrigar a Vida viva que existe em cada um de nós e fazer surgir a humanidade que sonhamos e como Deus imaginou!