quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Harmonia familiar – o amor pode dar certo (I)

A família foi, é e continuará sendo um foco importante para o entendimento do comportamento animal e, assim, também do homem. O que apresento aqui são algumas considerações de como o desenvolvimento do homem, em sua história filogenética, influencia a escala de harmonia/desarmonia das famílias na atualidade.
Num grupo, quando se fala em família, às sensações que surgem são as mais variadas indo de uma escala de sensações frias de grande mal estar, ou mesmo ódio, a sensações quentes de amorosidade, conforto e segurança, sendo essas últimas menos presentes. Muitas vezes, numa mesma família, seus membros apresentam tipos de sensações diferentes. A dinâmica que rege essas diferenças é complexa e abrange uma infinidade de interrelações no grupo familiar e social. Por isso, explicar detalhada e mecanicamente o que ocorre nessas relações é tarefa árdua e talvez mesmo impossível. Assim, optamos por analisar os sistemas sociais mais amplos que, ao observador atento, indica alguns dos caminhos a serem trilhados.
O primeiro sistema familiar que é o das espécies, nossa primeira grande família é conhecida como reino animal. Todo sistema familiar é regido por regras básicas que norteiam o comportamento geral do grupo, ou podemos dizer, a sua tendência comportamental; por isso preferimos adotar o termo sistema familiar para caracterizar um grupo de elementos que está sujeito às mesmas ordens. As regras fundamentais que regem esse sistema familiar são os instintos. São dois os instintos que norteiam o comportamento de nossa espécie: o instinto da sobrevivência ou autopreservação e o instinto sexual. O instinto da autopreservação existe para assegurar a nossa sobrevivência, por isso, quando em situações de ameaça, nos defendemos. Isso quer dizer que possuímos comandos básicos de um sistema de defesa natural que nos protege dos perigos de morte para preservar a vida.
O instinto sexual nos assegura o prazer de viver e a procriação. A espécie animal busca o prazer e evita o desprazer, essa é uma fórmula que nos mantém vivos e tem a função de preservar a nossa espécie (grande família), evitando a sua extinção. Já aqui percebemos que entre o conjunto de tendências comportamentais que apresentamos existem aquelas que dizem respeito a cada um de nós isoladamente e aquelas que dizem respeito ao sistema familiar ao qual pertencemos. Essas são exigências da natureza regendo nosso comportamento.
O outro grande sistema familiar do qual fazemos parte é o dos homo sapiens ou humanos, agora animais já tocados pela cultura e/ou o saber (conjunto de valores, crenças, símbolos, linguagem, etc, trazidos pelo grupo que o cerca). O que caracteriza esse sistema familiar é uma atividade mental da ordem da consciência ou do ego como preferimos. Aqui, como diz Freud, um mecanismo de articulação entre os instintos, explicitados anteriormente, e as exigências do ambiente/cultura, começa a atuar (ego) no sentido de conciliar essas exigências e atender às duas demandas. Essa tarefa nem sempre é possível. Quando esse mecanismo não consegue encontrar uma saída que atenda aos seus objetivos, a dos instintos e a do ambiente/cultura, ele falha em sua finalidade de obtenção do prazer e evitação da dor. É aqui que se instalam os primeiros sofrimentos/faltas (angústia) e surgem os primeiros traços de memória e, podemos dizer que, nesse momento, o homem cai na real, ou seja, entra em contato com a realidade na tentativa de restaurar esse equilíbrio e voltar ao paraíso perdido, indo buscar o que necessita para preencher suas faltas.
Continuamos a ver que também aqui opera um sistema dinâmico, em parte, independente da vontade do homem, dizemos em parte porque, embora suas ações possam ser conscientes, os desejos que a motivam em sua maioria não o são e é esse conjunto que vai marcar a forma como cada um de nós se insere no mundo, o nosso modo de agir.
Essa introdução se fez necessária para entendermos o tema principal desse artigo, harmonia do sistema familiar nuclear, que abordarei a seguir, inspirada nas pesquisas do filósofo e bioquímico inglês Rupert Sheldrake sobre a teoria dos campos mórficos:
...campos holísticos que têm papel formativo análogo ao das plantas arquitetônicas. Com os mesmos materiais de construção, podem ser construídas casas de formatos diferentes, segundo diferentes plantas. A planta não é material constitutivo da casa apenas define a maneira de agregar os materiais...
...acredito que as propriedades holísticas e auto-organizadoras de sistemas de quaisquer níveis de complexidade, das moléculas ás sociedades, dependem desses campos. Os campos mórficos não são fixos: evoluem. Possuem uma espécie de memória interna, que depende de processos de ressonância mórfica, ou seja, a influência do igual sobre o igual ao longo do tempo e do espaço.
Portanto, acreditamos que esses campos permitam a transmissão de informações através de gerações formatando o modelo de cada grupo ou constelação familiar de acordo com a história e as experiências passadas em cada sistema. (continua...)

Harmonia familiar – o amor pode dar certo (II)

A psicoterapia sistêmica do psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, trata das constelações familiares e seus desequilíbrios traduzidos em desajustes familiares. Segundo ele, um sistema ou constelação familiar consiste:
(...) numa comunidade de pessoas unidas pelo destino, através de várias gerações, cujos membros podem ser inconscientemente envolvidos no destino de outros membros. São partes dessa comunidade:
· O filho e seus irmãos ou meio irmãos, inclusive os falecidos e natimortos;
· Os pais e seus irmãos ou meio irmãos, inclusive os falecidos prematuramente e os natimortos;
· Os avós, e raramente um irmão ou meio irmão dos mesmos;
· Todos os que cederam lugar a outros nesse sistema – mesmo que não sejam parentes. É o caso de algum cônjuge ou noivo dos pais ou avós mesmo que já falecidos; e
· As pessoas que tiveram um destino funesto ou foram lesadas por um membro do sistema, excluídas, dadas a terceiros, desprezadas ou esquecidas.

Nessas constelações atuam leis naturais que tratam do equilíbrio do sistema, isto é, quando o sistema sofre um desequilíbrio causado por uma falta cometida por um de seus membros, essa falta é compensada por outro membro do sistema, independente de sua culpa ou inocência e independente da geração a qual pertença. O sistema busca o equilíbrio de maneira cega para expiar as culpas/faltas da constelação.
Ora, se nós considerarmos que existe um registro dessa história evolutiva da espécie (família), pelo menos, desde a instalação dos traços de memória, sistema explicitado anteriormente, poderemos aceitar o fato de que cada um de nós traz em seu banco de potencialidades (inconsciente) todos os resultados, prazerosos ou não, de ações empreendidas no sentido de minimizar a angústia. E o fazemos não só para atender a nós mesmos, mas para atender a necessidade de nossa espécie, que agora está representada pela constelação familiar. Assim, podemos dizer que cada um de nossos atos está impregnado desses sistemas, mesmo que não tenhamos consciência disso.
Tendo a acreditar que esses campos mórficos tenham relação com os instintos sexuais, a energia libidinal ou mesmo o Orgone de Reich, mas deixo esses temas para estudos posteriores.
Uma grande parte das teorias psicoterápicas desconhece esses vínculos e tendem a isolar a pessoa adulta de seu meio familiar considerando a sua individuação no processo de amadurecimento, a sua passagem para a vida adulta e a sua ida para o mundo como um rompimento dos laços familiares/antepassados.
Já vi alguns terapeutas pregarem o afastamento da família para o alcance do paraíso!
O que observamos então, apesar dos esforços das comunidades científicas e religiosas, é uma confusão geral na família que, segundo alguns especialistas, está se extinguindo ou se reformando na busca de um modelo que possa minimizar os efeitos da angústia que assola a sociedade.
Hoje, com o advento do raciocínio sistêmico e o desenvolvimento das pesquisas fenomenológicas, a tendência é, não só estudar o homem em seu meio, mas, principalmente, facilitar o seu desenvolvimento no ambiente onde esteja inserido, respeitando a sua natureza e a de seu grupo familiar.
Para isso, podemos começar imaginando que cada família está envolta em um campo mórfico que funcionaria como fios de elástico que permitiria o afastamento de seus membros, mas não a ruptura, e onde seria possível a transmissão de informações da espécie. Segundo ainda Sheldrake, talvez por aí se expliquem os vínculos sociais, importantes para a sobrevivência do homem. (continua...)

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Harmonia familiar - o amor pode dar certo (III)

Não podemos negar que à medida que nos tornamos adultos, os laços que nos ligam a família original diminuem de intensidade para que criemos outros laços na formação da nova família, cônjuge e filhos. Mas isso não significa que os vínculos possam ser rompidos ou que as informações não continuem sendo repassadas de geração a geração. É nesse campo que atuam ordens que objetivam o aprendizado e a evolução da espécie, e a sua descoberta, através da observação, permitiu a Hellinger o desenvolvimento de um sistema psicoterápico que se propõe a desfazer esses emaranhamentos familiares, trazendo harmonia aos membros da família e, conseqüentemente, à sociedade. Segundo ele, preexistem “ordens “ que devem organizar o sistema familiar:

Leis, princípios ou ordenações básicas preestabelecidas, que devem presidir nossos comportamentos. Assim, as ordens do vínculo são as leis básicas que devem comandar nossos relacionamentos para que o amor seja bem sucedido, e o seu desconhecimento ou desrespeito pode ocasionar conseqüências funestas.

Aqui podemos traduzir esse vínculo grupal através do conceito de campos mórficos, que teriam como objetivo a formatação da espécie, através da busca do prazer e evitação da dor, ao nível de cada constelação familiar.

O desrespeito a essas ordens é a causa dos desajustes e emaranhamentos em cada família.

A primeira ordem é a ordem da ajuda:

Consiste em dar apenas o que temos, e esperar ou tomar somente aquilo de que necessitamos. A primeira desordem da ajuda começa quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer tomar algo de que não precisa; ou quando uma espera e exige da outra o que ela não pode dar, porque não o tem. Há desordem também quando uma pessoa não tem o direito de dar algo, porque com isso tiraria da outra pessoa algo que somente ela pode ou deve carregar, ou que somente ela tem a capacidade ou o direito de fazer.

Em todas as relações deve haver um equilíbrio entre o dar e o receber, que devem acontecer em proporções equivalentes.

A exceção é feita na relação entre pais e filhos, pois os filhos sempre recebem mais dos pais e, para manter o equilíbrio, devem fazer o mesmo quando se tornarem pais.

Isso funciona para as questões materiais/financeiras e para as emocionais também. Um exemplo das trocas emocionais entre o casal é que, sendo um dos parceiros desrespeitado, este deve ser recompensado, mesmo que a recompensa não possua a mesma intensidade da falta. Isto pode ser dito de outra maneira: quem comete uma falta precisa assumir a responsabilidade de pagar por ela para que um membro inocente da família não assuma as conseqüências. E quem deve cobrá-la é o prejudicado.

Uma segunda ordem é a ordem de aceitação do passado:

Se você amar alguém depois, não poderá agir como se não tivesse vivido outro amor antes. Se aceitar o que viveu, com respeito aos antigos parceiros, as próximas relações poderão ser mais enriquecedoras do que se você for vivê-las como se fosse a primeira.

É imprescindível reconhecer a aceitação do afeto experimentado em relações anteriores: um novo amor só poderá ser bem sucedido se houver o reconhecimento de tudo que nos foi dado pelos demais relacionamentos. A rejeição consciente ou inconsciente de amores passados bloqueia a força de um novo amor.

Assim, é correto afirmar que as novas relações têm prioridade sobre as relações anteriores do casal. Mas, por piores que tenham sido estas últimas, deve-se aceitá-las e respeitá-las porque ao haver contato sexual estabelece-se um vínculo definitivo e tanto mais forte será se existirem filhos dessa relação.

Os desajustes dessa ordem podem ser danosos para o casal ou mesmo para os filhos, que num sistema de identificação com o parceiro rejeitado, muitas vezes tornam-se o problema da família.

A terceira ordem que podemos abordar é a ordem da individualidade:

O respeito pelo espaço de cada um é fundamental para o sucesso do relacionamento. Para amar é preciso aceitar duas solidões, a sua própria e a do outro. Numa relação deve haver respeito por segredos. Só assim ela terá uma chance. É ridículo querer que se conte tudo ao outro. Se houver respeito pelos segredos dos outros as pessoas acabarão revelando espontaneamente coisas importantes. Não se pode agir como intruso da alma de outra pessoa, mesmo que o relacionamento seja duradouro.

O desajuste dessa ordem interfere naquele instinto que trata de que cada um de nós precisa existir como ser individual, o de autopreservação. Isso acarreta a perda do “si mesmo” na relação e gera uma fusão emocional que leva a pessoa a perder seus objetivos de vida ou mesmo de sua identidade nos casos mais graves, tornando a relação insatisfatória para os dois parceiros.

Uma quarta ordem seria a ordem dos laços de família:

Os primeiros laços de amor são atados na família e todos os familiares estão ligados por uma grande alma comum. Essa consciência coletiva comum é transmitida por sucessivas gerações (campos mórficos), em uma corrente de influências, incluindo experiências dolorosas vividas pelo grupo. Os pais são a fonte de cada pessoa. Quem está separado afetivamente de seus pais está separado de sua fonte.

Por mais dolorosas que tenha sido a experiência com os pais, aqueles são os pais perfeitos, nem melhores nem piores que os outros. Eles dão aos filhos o presente mais importante, que é a vida. Poder aceitá-los e honrá-los como são, recebendo o que de bom eles puderam dar e não os criticando pelas faltas, religa a pessoa à sua fonte (origem) e a permite desfrutar de uma sensação quente de pertencimento e amorosidade.

Essas primeiras ordens são as que tratam mais amplamente dos relacionamentos nas constelações familiares.

Paralelamente a essas ordens existem outras que dizem respeito à hierarquia familiar e que precisam ser observadas.

No tocante à hierarquia, o grau de importância varia de acordo com a entrada da pessoa no sistema, assim, os pais têm prioridade sobre os filhos, o filho mais velho tem prioridade sobre o que vem após e assim sucessivamente. Nas relações matrimoniais, a ordem é inversa: quando os filhos casam essa nova relação passa a ter prioridade sobre as relações com a família original. Se o casamento se desfaz, e acontece outra relação, o novo parceiro passa a ter prioridade sobre o antigo, mas se existem filhos da primeira relação esses têm prioridade sobre o novo parceiro e seus meio irmãos, caso houver.

Os primeiros vínculos são sempre mais fortes do que os que vêm depois. Popularmente, se diz que é muito mais fácil separar-se na segunda ou terceira relação que da primeira, ou seja, os vínculos vão perdendo força, embora o amor possa ser maior. Aqui não devemos confundir vínculo com amor. Considero que o vínculo seja o ambiente que permite a instalação do amor.

Num sistema familiar cada um tem seu papel e precisa assumi-lo. O homem é o provedor, responsável pela criação de um ambiente seguro para a mulher e os filhos. O masculino deve estar a serviço do feminino.

A mulher é responsável pelo bem estar da família, desenvolvimento dos filhos e apoio para o homem. O feminino complementa o masculino.

Muito se poderia dizer ainda sobre as possibilidades para harmonização dos sistemas familiares, mas deixemos para outros trabalhos. Muito também ainda se tem a descobrir nesse campo que parece extenso e estamos, ainda, apenas tateando.

Foram esboçadas algumas possibilidades para que a família dê certo. É claro que para isso precisamos nos desapegar de crenças e valores que pertencem ao passado, mesmo que se apresentem com roupagens novas, adotar humildemente diferentes ações em nosso repertório comportamental e, muitas vezes, até buscar ajuda técnica de um profissional especializado que possa nos facilitar a entrada nesse caminho. Porém, compreender o como fazemos parte de um sistema maior, que exige ações que priorizem o bem comum para a evolução de nossa espécie, é algo que nos dá uma sensação quente de esperança e alegria.

Gostaria de finalizar o artigo com uma frase de Hellinger que diz:

“Cultivar reconhecimento e gratidão – a pais, antepassados e parceiros anteriores – é fundamental para que o amor do presente dê certo”.

sábado, 31 de julho de 2010

A saúde sexual, a modernidade e a doença

O bem-estar em todas as áreas da vida tem uma relação direta com a sexualidade, dizia Freud e todos os seus seguidores. Depois deles, multiplicaram-se os discursos sobre a atividade sexual, sexo caiu na boca do povo, foi restrito a genitalidade, escancaram as opiniões, aparecem de todos os lados as sugestões, dicas e informações de como fazer sexo seguro, saudável, excitante, impactante, descolado, energizante, mirabolante, extravagante, as posições mais vantajosas, a hora dos ais e a dos não ais...
Agora tenho me perguntado: por que as pessoas continuam infelizes, mentalmente enfermas e espiritualmente mortas? O que aconteceu com a premissa de grandes pensadores, homens da ciência, que previam uma melhoria da qualidade de vida em todos os seus aspectos a partir do aprofundamento do conhecimento nessa área e uma conseqüente liberação sexual? Decidi voltar aos compêndios. Iniciei por Historia da sexualidade de Michel Foucault. Que surpresa!
Nessa análise filosófica do comportamento sexual nos últimos séculos, o autor mostra como esses ensaios da sexualidade, em vez de liberar, aprisionaram porque sexo, que antes era ato, tornou-se discurso elaborado, reduzindo a espontaneidade do fato.
(...) Definiu-se também onde e quando se poderia falar dele.
Estabeleceram-se regiões senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e descrição: entre pais e filhos, professores e alunos e patrões e serviçais.
O cerceamento das regras de decência provocou, provavelmente, um contra efeito, uma valorização e uma intensificação do discurso indecente.
Erotismo discursivo generalizado. (...)

(...) O que é próprio das sociedades modernas não é o de terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o de terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como um segredo. (...)

A ponta do iceberg estava aí, porém eu queria mais, precisava saber o que se escondia por trás disso. O que fez a sociedade embarcar nessa onda discursiva e desfocar o prazer real, o grande prazer do encontro, o orgasmo?

Fui beber na fonte do grande pesquisador Wilhelm Reich que estudou o corpo humano como resultado da historia de cada um de nós, um corpo em movimento.

Para ele, também médico e psicanalista, inicialmente um seguidor de Freud, o orgasmo, prazer maior do ser humano é também fonte de equilibração da energia psíquica disponível, o que ele chamou de bioenergia.
A partir daí, seus estudos se voltaram para pesquisar o movimento dessa  bioenergia, formadora do corpo e impulsionadora da vida, e os impactos do desequilíbrio dela em nosso viver.
A bioenergia é o impulso formador do corpo e se este é um corpo em movimento/processo, como pressupõe o desenvolvimento, é natural que necessite de livre trânsito para impulsionar o que precisa ser acionado. É preciso também haver carregamento e descarregamento dessa energia, uma vez que funciona como um sistema de bombeamento energético.
Segundo Reich todo o funcionamento do organismo humano visa o grande ato que possibilita a procriação – o Orgasmo. E é nesse ato que o sistema bombeador da bioenergia assegura o equilíbrio psíquico.
O que acontece então a todos os seres humanos é que, em seu estágio de desenvolvimento, o processo educativo/civilizatório, bloqueia o fluxo da bioenergia, a partir da contração do sistema respiratório e consequente enrijecimento dos músculos, fazendo com que a mesma se concentre em determinadas partes do corpo promovendo um desequilíbrio energético nos seus diversos membros. Assim, essa energia que deveria culminar no acionamento do sistema genital chega a este em quantidade reduzida e gera toda uma disfunção no sistema de carga e descarga; o que num processo de realimentação vai intensificar o bloqueio.
As consequências disso, além de corporais (posturas incorretas, desarmonia da forma, falta de vitalidade, doenças psicossomáticas, distúrbios sexuais, olhos sem brilho, pele sem cor) são também psíquicas: neuroses, psicoses e todas as desordens que acarretam baixa qualidade de vida e falta de impulso para viver. Desconecta o homem do seu corpo. Quanto maior a desconexão, maior a gravidade do problema.
Por aí podemos entender o que falou Foucault sobre o discurso afastado do ato. O homem agora elabora em vez de realizar... Uma desconexão.
E é isso que encontramos nas sociedades modernas. Muita falação e um ato desajustado que impede o encontro total com o outro, relações descartáveis, sexo coisificado, mulheres e homens que não tem domínio de si transformando o encontro do eu com o tu numa “foda”, alienação pelo desconhecimento do seu próprio corpo, alienação pelo desconhecimento das macro implicações do encontro sexual amoroso que se traduzem em falta de espiritualidade e amadurecimento para um ato tão sublime.

Falta-nos uma educação sexual completa que não se restrinja a falar apenas dos aspectos bio-fisiológicos, mas que também insiram os aspectos do psíquico e do espiritual.

Sexo pra ser bom, saudável e prazeroso exige responsabilidade, domínio de si.
Exige saúde física, mental e espiritual.

Sexo bom é encontro do Eu com o Tu em todas as estações, compromisso amoroso e permanente que vai irrigar a Vida viva que existe em cada um de nós e fazer surgir a humanidade que sonhamos e como Deus imaginou!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pais e Filhos (parte I)

Aos pais e aos filhos que serão pais no futuro.
Muito já foi dito sobre a relação entre pais e filhos, mas o tema não se esgota. É a relação de maior importância após a relação primordial, que é a do homem com a mulher, onde se origina o ambiente amoroso que permitirá o desenvolvimento do novo Ser.  É nessa relação parental que estruturamos o futuro da humanidade.
Não é uma relação simples e longe está da perfeição. É uma relação dinâmica onde o construir/desconstruir se sucedem progressivamente até que os pimpolhos estejam aptos a fazer seus próprios vôos e os pais dispostos a passarem para os bastidores do palco da vida.  Grande parte dela ainda se dá inconscientemente. Bom seria que tivéssemos um manual de funcionamento, como não o temos, a saída é lidar com a questão ocupando o lugar de gente que evolui. Algumas dicas podem nos ajudar nessa caminhada.
Vamos tentar dar uma ordem de prioridades:

1. Criando o ambiente saudável para a família
Esse não é um ambiente como qualquer outro, é um ambiente invisível resultado das interações entre o homem e a mulher que se amam e querem ser pais. É nesse ambiente que irá se desenvolver a nova criaturinha.

Os papéis são diferentes para o homem e a mulher na vida do casal.
O homem (ativo) é o principal responsável pela proteção do lar, assegurando as condições de segurança da família (espaço, alimentos, limites). Dizemos que ele  representa a ordem ou a lei.
A mulher (passivo) é a principal responsável pelo bem estar no lar, a ela cabe prioritariamente, a organização dos elementos que o seu parceiro dispôs e o acompanhamento da educação dos filhos.

Para que isso funcione de uma maneira harmoniosa e flexível, sem que um se torne pedra que aperta no sapato do outro, é necessário que cada um invista em seu próprio autoconhecimento, buscando aprender mais sobre seus potenciais, carências, sentimentos e emoções, a fim de descobrir a forma como se posiciona no mundo, desfazendo ilusões e criando possibilidades de correções daquilo que foi desvirtuado no desenvolvimento de si mesmo.

2. Recebendo o novo membro da família
A nova criatura vai chegar mexendo com a estrutura familiar instalada. Ela precisa ocupar o seu espaço na família, cabe aos pais cederem a parte que precisa para o seu desenvolvimento.
Não dá para levar a mesma vida de antes. O bebê tem necessidades regulares que precisam ser atendidas quer os pais estejam dispostos, quer não. É um tempo de nutrição. O que deve ser feito carinhosa e pontualmente, quando solicitado por ele. Nessa fase, o contato corpo a corpo é fundamental. Alimenta-lo com calor, afeto e carinho. Procurar entender as suas necessidades e não deixar que as dos pais o atrapalhem. À mãe, cabe esse contato mais estreito com a sua cria; ao pai, a provisão das condições ambientais de proteção a mãe, para que esta possa realizar suas funções com o mínimo de desconforto. O olhar sobre esse novo ser vai desempenhar uma função importante na formação da nova personalidade; é espelhando o que se passa com o ele que pais vão possibilitando a constituição de uma personalidade independente, única e confiante.
Importante saber que nessa fase os pais sofrem de um processo de regressão que pode variar de leve a moderado, principalmente, se em suas histórias, esta foi uma fase de muitas faltas. Daí a importância do processo de autoconhecimento, e, quando necessário, o acompanhamento de um psicoterapeuta.
O principal serviço dos pais é favorecer o desabrochar do “Ser” em formação sabendo que tudo o que ele será já está ali potencialmente, necessitando apenas de cuidados para diminuir os impactos do ambiente/mundo. É nessa fase que, falhas graves no sistema familiar associadas a heranças genéticas, vão gerar as condições de instalação de transtornos mentais mais severos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Saúde emocional

Quando se fala em saúde, instantaneamente pensamos em doenças do corpo físico. Até hoje, a grande maioria dos profissionais e serviços de saúde lida basicamente com o corpo físico, embora não se possa mais ignorar a existência de um corpo emocional (alma) que também adoece e carece de cuidados especializados.
Quem não já sentiu uma dor profunda na alma mesmo sem ter um motivo que justificasse isso? Uma tristeza intensa? Um desligamento temporário do mundo? Uma euforia súbita? Ou mesmo aquela palpitação que acabou numa emergência hospitalar e foi diagnosticada como estresse?
Pois é, esses são sintomas de transtornos emocionais. E claro que senti-los vez por outra não significa que você esteja doente, apenas confirmam que você é humano e tem uma alma. Mas, quando esses sintomas insistem em permanecer, é bom procurar um especialista para se certificar da existência ou não de um transtorno emocional.
Infelizmente, nós ainda tendemos a ver esses sintomas como fraqueza de espírito, falta de força de vontade, falta de fé, etc. Essa visão traduz a falta de informação da sociedade sobre esse tipo de sintomas e prejudica ainda mais a pessoa que vive a sua crise.
E o que é pior: o transtorno emocional pode matar.
Algumas vezes elas se instalam no corpo e transformam-se nas doenças chamadas psicossomáticas (cardiopatias, transtornos alimentares, alguns tipos de câncer, alergias, dermatites, impotência, frigidez, vícios variados e por aí vai... é uma grande lista! ).
Outras vezes elas levam ao suicídio, por exemplo, em algumas depressões não tratadas.
Outras vezes ainda, elas paralisam a pessoa, restringindo consideravelmente seus hábitos de vida (síndrome do pânico, fobias, psicoses).
E todos os casos levam a uma desordem na família.
É importante saber que essas doenças:
- não estão sob o controle da pessoa, isto é, ninguém pode se autocurar;
- não estão ligadas a aspectos religiosos;
- precisam de tratamento e orientação de especialistas.

Precisamos acabar com o preconceito com o transtorno emocional. Os tratamentos estão muito evoluídos e permitem que todos possam levar uma vida plena, se cuidarem logo dos seus sintomas.
Os profissionais indicados para esses tratamentos são os psicólogos e os psiquiatras.
Se você tem um parente ou amigo que esteja apresentando sintomas desse tipo de transtorno, oriente-o, ele precisa dessa ajuda e você poderá estar salvando uma vida!