quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Harmonia familiar – o amor pode dar certo (I)

A família foi, é e continuará sendo um foco importante para o entendimento do comportamento animal e, assim, também do homem. O que apresento aqui são algumas considerações de como o desenvolvimento do homem, em sua história filogenética, influencia a escala de harmonia/desarmonia das famílias na atualidade.
Num grupo, quando se fala em família, às sensações que surgem são as mais variadas indo de uma escala de sensações frias de grande mal estar, ou mesmo ódio, a sensações quentes de amorosidade, conforto e segurança, sendo essas últimas menos presentes. Muitas vezes, numa mesma família, seus membros apresentam tipos de sensações diferentes. A dinâmica que rege essas diferenças é complexa e abrange uma infinidade de interrelações no grupo familiar e social. Por isso, explicar detalhada e mecanicamente o que ocorre nessas relações é tarefa árdua e talvez mesmo impossível. Assim, optamos por analisar os sistemas sociais mais amplos que, ao observador atento, indica alguns dos caminhos a serem trilhados.
O primeiro sistema familiar que é o das espécies, nossa primeira grande família é conhecida como reino animal. Todo sistema familiar é regido por regras básicas que norteiam o comportamento geral do grupo, ou podemos dizer, a sua tendência comportamental; por isso preferimos adotar o termo sistema familiar para caracterizar um grupo de elementos que está sujeito às mesmas ordens. As regras fundamentais que regem esse sistema familiar são os instintos. São dois os instintos que norteiam o comportamento de nossa espécie: o instinto da sobrevivência ou autopreservação e o instinto sexual. O instinto da autopreservação existe para assegurar a nossa sobrevivência, por isso, quando em situações de ameaça, nos defendemos. Isso quer dizer que possuímos comandos básicos de um sistema de defesa natural que nos protege dos perigos de morte para preservar a vida.
O instinto sexual nos assegura o prazer de viver e a procriação. A espécie animal busca o prazer e evita o desprazer, essa é uma fórmula que nos mantém vivos e tem a função de preservar a nossa espécie (grande família), evitando a sua extinção. Já aqui percebemos que entre o conjunto de tendências comportamentais que apresentamos existem aquelas que dizem respeito a cada um de nós isoladamente e aquelas que dizem respeito ao sistema familiar ao qual pertencemos. Essas são exigências da natureza regendo nosso comportamento.
O outro grande sistema familiar do qual fazemos parte é o dos homo sapiens ou humanos, agora animais já tocados pela cultura e/ou o saber (conjunto de valores, crenças, símbolos, linguagem, etc, trazidos pelo grupo que o cerca). O que caracteriza esse sistema familiar é uma atividade mental da ordem da consciência ou do ego como preferimos. Aqui, como diz Freud, um mecanismo de articulação entre os instintos, explicitados anteriormente, e as exigências do ambiente/cultura, começa a atuar (ego) no sentido de conciliar essas exigências e atender às duas demandas. Essa tarefa nem sempre é possível. Quando esse mecanismo não consegue encontrar uma saída que atenda aos seus objetivos, a dos instintos e a do ambiente/cultura, ele falha em sua finalidade de obtenção do prazer e evitação da dor. É aqui que se instalam os primeiros sofrimentos/faltas (angústia) e surgem os primeiros traços de memória e, podemos dizer que, nesse momento, o homem cai na real, ou seja, entra em contato com a realidade na tentativa de restaurar esse equilíbrio e voltar ao paraíso perdido, indo buscar o que necessita para preencher suas faltas.
Continuamos a ver que também aqui opera um sistema dinâmico, em parte, independente da vontade do homem, dizemos em parte porque, embora suas ações possam ser conscientes, os desejos que a motivam em sua maioria não o são e é esse conjunto que vai marcar a forma como cada um de nós se insere no mundo, o nosso modo de agir.
Essa introdução se fez necessária para entendermos o tema principal desse artigo, harmonia do sistema familiar nuclear, que abordarei a seguir, inspirada nas pesquisas do filósofo e bioquímico inglês Rupert Sheldrake sobre a teoria dos campos mórficos:
...campos holísticos que têm papel formativo análogo ao das plantas arquitetônicas. Com os mesmos materiais de construção, podem ser construídas casas de formatos diferentes, segundo diferentes plantas. A planta não é material constitutivo da casa apenas define a maneira de agregar os materiais...
...acredito que as propriedades holísticas e auto-organizadoras de sistemas de quaisquer níveis de complexidade, das moléculas ás sociedades, dependem desses campos. Os campos mórficos não são fixos: evoluem. Possuem uma espécie de memória interna, que depende de processos de ressonância mórfica, ou seja, a influência do igual sobre o igual ao longo do tempo e do espaço.
Portanto, acreditamos que esses campos permitam a transmissão de informações através de gerações formatando o modelo de cada grupo ou constelação familiar de acordo com a história e as experiências passadas em cada sistema. (continua...)

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